Venho há algum tempo me incomodando, precisando colocar algo de palavras pra fora, mas tenho me sentindo sufocada. Hoje reli poesias e crônicas e vi o quão mais fácil é escrever quando se está apaixonada. Mais fácil não sei, mas a intensidade é tamanha que não se permite sufocar, sei lá...nos últimos dias a tensão do Rio de Janeiro me tocou por demais. Difícil assistir o jornal e, apesar de você, viver. Apesar das dificuldades, riscos, ainda busco razões para justificar que, em alguma medida, aqui é bom, aqui é meu lugar.
A Copa tá chegando, e o desafio, enfim, é de não se permitir sufocar. Porque vão tentar isso, cada vez mais, mais sutis maneiras...
Às vezes, uma crônica demora a fluir; é engolida, abafada pelo calor de cada dia, que se cria, recria, na pressa consumista que essa metrópole nos obriga goela abaixo. Mas também, de que demora reclamo? Olho no relógio - a hora passa rápido. Isso não deveria importar - a crônica se move de outro jeito, não abaixa a cabeça para Chronos.
Ainda bem que é possível escrever crônica - ela me salva, do jeito dela, claro, da ditadura das paixões dilacerantes: Ganhe dinheiro! Viaje muito! Tenha tesão, trepe! Se apaixone loucamente! E nos dizem que isso é viver. E quanta (SOBRE) VIVÊNCIA tiramos disso? A própria palavra nos dá pistas. Parece que tudo isso nos faz criar uma camada, cada vez mais densa, se deixamos sobre-a-vivência nos guiar.
Deixamos os sentires de lado, pois experimentar os sentires das experiências é, por vezes, deveras angustiante, incômodo, e portanto, indesejado. E aí, corremos para aplacar tudo isso, assim como os bons encontros amenos passam a ser pouco valorizados, em detrimento do apartheid afetivo. Claro, o consumo não se perpetua sem a pressa - é preciso inovar, e consumir as inovações. Tudo logo fica velho, chato, obsoleto, deve ser trocado. E vamos lá, trabalhar para comprar, pra existir, sem muito sentir. Consumimos pessoas, e, a qualquer desagrado, obsoleta também ficou - hora de inovar, troque logo isso!
E assim vamos conectando as redes sociais, e, muitas vezes, desconectando de nós mesmos. Onde, no nosso cotidiano, cabem as experimentações das amenidades? Em qual Rio podemos nos banhar sem nos deixar levar e afogar pela correnteza?