terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Poeta viajante


Nas praças que se parecem
Os encontros se diferem
e deferem
a diferença humana
No ínfimo das relações
Passa adiante o poeta
E fotografa com a memória
aquilo que de novo já foi
E, assim, que alegria!
Mais uma poesia
que o poeta viajante
Pasa adelante!

Coisas Desimportantes



Pela mata
O barro se doa
à formigas deslizar
nessa época, já se sente
o cheiro do canto das cigarras
se chama: verão
No caminho, as flores se banham
no olhar contemplativo do andarilho
Esse estranho poema, dedico
ao imbecil singelo poeta Manoel de Barros
que me ensinou a ver no caminho
e letrar
Coisas Desimportantes!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Despertou no Engenho Novo

Despertou no Engenho Novo
Despertador, trabalhou?
Cedo que foi não precisou
A tiros
O sono acordou
O sonho acabou?
Única Paz Possível
é de ocupação?
A Copa passou
A Olimpíada nem chegou
E o sonho da paz?
Despertou o Engenho Novo
A(tirando) o sono,
na vã promessa de paz
A juventude jaz
E, assim,
Desperta o Engenho Novo...

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O nascimento da poesia

A poesia, nascida
Da mão do poeta
Filha
De corpo todo
Só nasce de parto natural
Não dá pra agendar, planejar, programar,
Forçar
Mas no sentir
Há de se concentrar
aí o teor da poesia
Varia
se o poeta se angustia
deixa fluir
nasce a poesia
e a angústia
apelida de

Alegria!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Poeta leviano

Há quem acredite
E repita
Que o poeta que leva os dias
Pela alegria
E quase nada se alimenta
De melancolia
Está leviando
Leve ando
Pois que a tristeza se busca óbvia
Nos olhos de quem
Andarilha
Armadilha
Pois que, de repente,
Até ele, sozinho,
Sorria!

Mais poesia, menos melancolia!

A poesia me desafia. 
E na poesia que encontro uma saída. 
Com a poesia tudo se clarifica. 
Com a poesia, minha dor se glorifica
E, se me pego suplicando ao doutor 
A cura dessa dor, 
quiçá me felicite um convite 
de poesia levitar
 E a gravidade da vida Jogar de pernas pro ar...
Aí decido chamar o mundo 
para brincar de palavras bagunçar 
Chega de melancolizar Quero mesmo é,
com poesia, 
Pôr a língua a delirar!

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Nos trilhos, trilhando afetos



No vagão que bem leve passeia, pensamento vagueia
E me leva, profunda, até o Humaitá...
Lá, onde tá meu amor, meu sincero, forte, simples e intenso sentimento;
Te gosto daqui praí, em qualquer lugar.
Por ali, naquela ferrovia, onde passava a muita riqueza que aqui havia, agora,
Só turistar se faz.
Turisto, e vou carregando sobre os trilhos o pensamento em você,
E as sensações que ele em mim provoca.
Como singela recompensa, te presenteio com esse simples poema,
Que só um pouco se aproxima
Da riqueza do acontecimento vivido
Sobre os trilhos mineiros!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Um Rio para escoar o sufocamento

  Venho há algum tempo me incomodando, precisando colocar algo de palavras pra fora, mas tenho me sentindo sufocada. Hoje reli poesias e crônicas e vi o quão mais fácil é escrever quando se está apaixonada. Mais fácil não sei, mas a intensidade é tamanha que não se permite sufocar, sei lá...nos últimos dias a tensão do Rio de Janeiro me tocou por demais. Difícil assistir o jornal e, apesar de você, viver. Apesar das dificuldades, riscos, ainda busco razões para justificar que, em alguma medida, aqui é bom, aqui é meu lugar.
  A Copa tá chegando, e o desafio, enfim, é de não se permitir sufocar. Porque vão tentar isso, cada vez mais, mais sutis maneiras...
  Às vezes, uma crônica demora a fluir; é engolida, abafada pelo calor de cada dia, que se cria, recria, na pressa consumista que essa metrópole nos obriga goela abaixo. Mas também, de que demora reclamo? Olho no relógio - a hora passa rápido. Isso não deveria importar - a crônica se move de outro jeito, não abaixa a cabeça para Chronos.
  Ainda bem que é possível escrever crônica - ela me salva, do jeito dela, claro, da ditadura das paixões dilacerantes: Ganhe dinheiro! Viaje muito! Tenha tesão, trepe! Se apaixone loucamente! E nos dizem que isso é viver. E quanta (SOBRE) VIVÊNCIA tiramos disso? A própria palavra nos dá pistas. Parece que tudo isso nos faz criar uma camada, cada vez mais densa, se deixamos sobre-a-vivência nos guiar.     
  Deixamos os sentires de lado, pois experimentar os sentires das experiências é, por vezes, deveras angustiante, incômodo, e portanto, indesejado. E aí, corremos para aplacar tudo isso, assim como os bons encontros amenos passam a ser pouco valorizados, em detrimento do apartheid afetivo. Claro, o consumo não se perpetua sem a pressa - é preciso inovar, e consumir as inovações. Tudo logo fica velho, chato, obsoleto, deve ser trocado. E vamos lá, trabalhar para comprar, pra existir, sem muito sentir. Consumimos pessoas, e, a qualquer desagrado, obsoleta também ficou - hora de inovar, troque logo isso!
  E assim vamos conectando as redes sociais, e, muitas vezes, desconectando de nós mesmos. Onde, no nosso cotidiano, cabem as experimentações das amenidades? Em qual Rio podemos nos banhar sem nos deixar levar e afogar pela correnteza?

domingo, 4 de maio de 2014

Poesia, para ACONTECER…



Faz um tempo venho me incomodando
Em escrever só motivos do coração
A impressão do individual, talvez narcísico
Profundo,  até demais pra mim

Venho vivendo, e tecendo
Sobre frustração, paixão, solidão
Aparentemente, sem pensar muito em revolução...
Mas também venho desejando expurgar
Uma poesia de crítica social
Só que poesia é como a vida:
ACONTECIMENTO

Acontece que acontecer no Rio é sempre desafio
A cada passo, a cada esquina, uma multidão de surpresas
Ruas desertas, até aquela abordagem, somente
Daqueles que à margem estão, e de algum modo,
Contribuímos para que assim permaneçam

E assim vamos caminhando, tentando acontecer,
Viver,
E pra sobreviver, aprendendo até a conversar
Amena com o ladrão
Negociando a volta pra casa

Até se despedir daquele que sai a correr
Com um pouco de você nas desesperadas mãos...
Aquele que poucas possibilidades tem, para,
De outros modos,
ACONTECER...

sábado, 22 de março de 2014

Pra deixar a noite passar

Quando a noite chuvosa fica difícil
Mais fácil pensar no dia seguinte
Ouvir o silêncio da chuva, olhar seu cheiro
Um entrosamento com si mesmo vai se tornando possível
Onde a letra para, repara
É na imaginação
Vamos lá, deixa um pouco a razão,

E sente a noite passar.

terça-feira, 18 de março de 2014

Silêncio

Deixa o silêncio estar
pra escutar as feridas que o tempo precisa cicatrizar.
Deixa estar, deixa passar,
permita ficar, um tempo pra deitar a cabeça no coração,
e o coração se alegrar.
Escuta o silêncio, sente seu tempo...
o tempo de embasar a novidade
que se permita ficar.
Se sou, pra sempre, passageiro,
deixo o silêncio parar, para passar.
Morrer, chorar, remoer,
e poder desejar, permanecer.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Sozinha, con tanto, contato

Se o Chile me fez reabrir as portas do coraçao Uruguai me faz mantê-las abertas com tranquilidade A calma necessária ao olhar interessado, o contato acolhedor Fazem com que Montevideo, de belezas naturais muito simples se torne brilhante e colorida pelos afetos que aqui circulam Passando por parques, praias, praças e pelo forte batuque do Candombe, passaram por mim a alegria de encontrar vizinhos em país distante, o aperto da saudade do amor que me espera no Brasil, o encanto pela Latinoamérica (cantamos y bailamos) E brevemente lamentos, pelo amor que se foi, se sufocou, se suicidou O lamento passou, ficou em Punta del Leste Lá, onde também lamentei as misérias do povo que para os ricos trabalhou e quase nada ganhou Consigo concluir, enfim que o limite da persistência é o risco do adoecimento, que estar sozinho nem sempre é estar fechado, que nas estradas, nas ruas, nas casas estamos sempre acompanhados Basta estar atento, e se abrir para o contato!