sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sem título, pois não há nome que dê conta disso





O que eu sei dela?
Eu sei que é ela que faz o tempo parar
em meio ao caos dessa cidade
faz-me sentir, delirar, emocionar
e me ampliar.
Diz que me admira, que comigo aprende
e isso muito me surpreende, afinal
eu a vejo anos-luz à minha frente.
Mas sinto que me aproximo, talvez não tão rápido quanto um cometa
e sim o suficiente para vivenciarmos o que na vida há de mais banal.
E assim vamos nos aproximando,
experimentando o calor da chuva,
o som dos suores,
a intensidade de um parque,
a viajante alegria na obssessão infinita,
uma semana que cria muitas vidas!

Apetite de viver





E quando há muito tempo pude esquecer
O quão bom é perder em fome, e ganhar em apetite de viver
Você me reapresenta o acaso
Revisito intensidades com novos olhares, afetos e sensações
Mergulho em novidades, desconstruo mentiras, culpas e traições
Ressignifico a vida, as relações
O dia e a noite se apresentam pra mim como música e poesia                            
No cansaço, vivo a alegria
Na frieza de um lugar cinza, ainda muito preso não só em celas,
Mas em moral, dureza e burocracia
Encontro fôlego e escape na adrenalina do que não se pode deixar saber
Tento controlar os olhares, pois os pensamentos e as sensações...
Ah, as sensações!
Desde que descobri tudo isso já não controlo mais
E como nosso filho,
A permissão ao não controle se faz possível!



O infinito mais belo




Parece que são infinitas as coisas que tenho para dizer a ela. A cada mensagem, a cada olhar, um passeio calmo e singelo pela caótica cidade carioca, se criam infinitos, se abrem imensidões de possibilidades, e constrói a necessidade de maturar o desconhecido. O dia a dia, que parece ser tão simples, óbvio e planejado, ganha cor, música, e aguça os meus ‘sentidos’; nunca senti com tanto cuidado o dia passar por mim. Os pequenos detalhes, que fazem grandes diferenças, saltam aos meus olhos. Simples gentilezas em um ônibus, num breve percurso até em casa, e me percebo em contato atentamente suave com as pessoas, com a chuva, o frio, as poças d’água. Respiro, e sinto a alegria que até então não encontrava em nenhum alucinógeno. E vejo que de finitos temos quase nada, visto que somos um infinito de coisas que ainda não nos permitimos conhecer. E assim tem sido os meus dias – brandos, coloridos, cuidadosos, apaixonados!

Como é difícil devir



Como é difícil devir
E sentir
Prosseguir sem se preocupar em prever o amanhã
Parece tarefa árdua nos instantes
Em todos os instantes
Quando o pensamento vira um turbilhão
E o corpo...ai, o corpo
Quanta sensação
E não se sabe onde isso vai dar
Pensamento e corpo, não tem separação
Às vezes, quero retirar o que sinto
E, quase ao mesmo tempo,
Quero viver intensamente tudo isso
Doce e ardente é pensar sem ver
Imaginar e sentir, e viver
Tudo misturado, entrelaçado
Estranhamente gostoso, extremamente erótico
Libertador, e medonho
Ai, e como gosto!

Sobre o ‘ser’ escritor




Sinto que escrevo porque preciso dar conta de mim. Escrevo não necessariamente por arte, por letramento, por intelectualidade. Escrevo pra sentir; ou pra tentar compreender o que sinto, e sinto que preciso contornar, e que, se não contornar, enlouquecerei. Esses contornos às vezes ficam bonitos, às vezes ficam trágicos, mas muitas vezes produzem sentido (ao menos pra mim), e penso que, talvez, produzam outros afetos e sentidos nos outros. Ainda bem que assim é, pois aí não teremos verdade absoluta, a diversidade e a multiplicidade se fortalecem, se perpetuam, e garantimos a nossa vivência como humanos, ricos em afetações, e não como filhos de incubadoras. A angústia, muitas vezes, me move a escrever, e que bom que ela move algo. Isso me alivia, e me ajuda a construir novos caminhos. Drummond, Clarice, Freud, Guattari, Deleuze, Pessoa, e muitas outras pessoas (e coisas) constituem a minha escrita. Sendo assim, dizer  ‘minha’ é só modo de dizer. A escrita, assim como a leitura, é feita de afetos, perceptos, e história, produzindo novos afetos, perceptos, revisitando a história, reescrevendo com outros olhares. Às vezes, leio o que escrevi, e não me reconheço. Às vezes, penso que estava sentindo de determinado modo naquele momento, mas, provavelmente, naquele momento em que escrevi, não pensei em nada disso. Às vezes (muitas vezes) penso demais, e preciso transformar isso em algo um pouco agradável, que talvez chamem de arte, mas talvez seja muito ousado da minha parte afirmar que é isso mesmo. Há algum tempo atrás, comecei a escrever sobre isso, o ‘ser’escritor. E empaquei. Não fluiu. Hoje, nada como uma longa viagem, para fazer viajar as ideias, para deixar a mente em paz, livre para alçar voos, cadenciados por angústias e felicidades!