sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Sobre o ‘ser’ escritor




Sinto que escrevo porque preciso dar conta de mim. Escrevo não necessariamente por arte, por letramento, por intelectualidade. Escrevo pra sentir; ou pra tentar compreender o que sinto, e sinto que preciso contornar, e que, se não contornar, enlouquecerei. Esses contornos às vezes ficam bonitos, às vezes ficam trágicos, mas muitas vezes produzem sentido (ao menos pra mim), e penso que, talvez, produzam outros afetos e sentidos nos outros. Ainda bem que assim é, pois aí não teremos verdade absoluta, a diversidade e a multiplicidade se fortalecem, se perpetuam, e garantimos a nossa vivência como humanos, ricos em afetações, e não como filhos de incubadoras. A angústia, muitas vezes, me move a escrever, e que bom que ela move algo. Isso me alivia, e me ajuda a construir novos caminhos. Drummond, Clarice, Freud, Guattari, Deleuze, Pessoa, e muitas outras pessoas (e coisas) constituem a minha escrita. Sendo assim, dizer  ‘minha’ é só modo de dizer. A escrita, assim como a leitura, é feita de afetos, perceptos, e história, produzindo novos afetos, perceptos, revisitando a história, reescrevendo com outros olhares. Às vezes, leio o que escrevi, e não me reconheço. Às vezes, penso que estava sentindo de determinado modo naquele momento, mas, provavelmente, naquele momento em que escrevi, não pensei em nada disso. Às vezes (muitas vezes) penso demais, e preciso transformar isso em algo um pouco agradável, que talvez chamem de arte, mas talvez seja muito ousado da minha parte afirmar que é isso mesmo. Há algum tempo atrás, comecei a escrever sobre isso, o ‘ser’escritor. E empaquei. Não fluiu. Hoje, nada como uma longa viagem, para fazer viajar as ideias, para deixar a mente em paz, livre para alçar voos, cadenciados por angústias e felicidades!

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