Sinto que escrevo porque preciso
dar conta de mim. Escrevo não necessariamente por arte, por letramento, por
intelectualidade. Escrevo pra sentir; ou pra tentar compreender o que sinto, e
sinto que preciso contornar, e que, se não contornar, enlouquecerei. Esses
contornos às vezes ficam bonitos, às vezes ficam trágicos, mas muitas vezes
produzem sentido (ao menos pra mim), e penso que, talvez, produzam outros
afetos e sentidos nos outros. Ainda bem que assim é, pois aí não teremos verdade
absoluta, a diversidade e a multiplicidade se fortalecem, se perpetuam, e
garantimos a nossa vivência como humanos, ricos em afetações, e não como filhos
de incubadoras. A angústia, muitas vezes, me move a escrever, e que bom que ela
move algo. Isso me alivia, e me ajuda a construir novos caminhos. Drummond,
Clarice, Freud, Guattari, Deleuze, Pessoa, e muitas outras pessoas (e coisas)
constituem a minha escrita. Sendo assim, dizer
‘minha’ é só modo de dizer. A escrita, assim como a leitura, é feita de
afetos, perceptos, e história, produzindo novos afetos, perceptos, revisitando
a história, reescrevendo com outros olhares. Às vezes, leio o que escrevi, e
não me reconheço. Às vezes, penso que estava sentindo de determinado modo
naquele momento, mas, provavelmente, naquele momento em que escrevi, não pensei
em nada disso. Às vezes (muitas vezes) penso demais, e preciso transformar isso
em algo um pouco agradável, que talvez chamem de arte, mas talvez seja muito
ousado da minha parte afirmar que é isso mesmo. Há algum tempo atrás, comecei a
escrever sobre isso, o ‘ser’escritor. E empaquei. Não fluiu. Hoje, nada como
uma longa viagem, para fazer viajar as ideias, para deixar a mente em paz,
livre para alçar voos, cadenciados por angústias e felicidades!
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